
(...)
"Enquanto os cenários distintos evoluíam na sala de aula, a alguns quilómetros de distância, numa das margens da Barragem da Desgraça, o rebanho de ovelhas de Marcelino Fezes saciava a sede matinal na escassa água que ainda resistia ao Verão rigoroso.
- Ajuda, o que trazes tu na boca? Um osso? Onde fostes buscar essa porcaria?
Encostado ao cajado, de cigarro descaindo no canto da boca, Marcelino observava com a atenção tranquila das pessoas serenas os movimentos mandibulares do rafeiro corpulento, que continuava a roer com apetite voraz o pedaço de osso descoberto em local indefinido.
Quando o cão malhado que acudia pelo nome de Ajuda terminou o manjar ósseo, voltou a afastar-se do pastor, galgando entre as ovelhas até um local da barragem onde a profundidade da água não ia além de dois palmos. Marcelino seguiu-lhe o rasto com o olhar calmo por debaixo da aba larga do chapéu de palha.
Semi-submerso, um invólucro esbranquiçado, com letras vermelhas pouco nítidas, exibia-se ao longe e atraía o faro canino.
Empenhado em quebrar a monotonia do ofício, Marcelino, em passada lenta, aproximou-se do local onde o cão continuava a debater-se com o conteúdo do invólucro.
- Que é que tu tens aí Ajuda?
O cão ignorou-lhe a presença e continuou a desesperante batalha com o saco de plástico de dimensão volumosa.
- Deixa-me lá ver o que tens aí!
Com o cajado esboçou uma tentativa de afastar o cão, mas a reacção do animal revelou-se agressiva, exibindo-lhe a dentição cuidada e rosnando-lhe em tom ameaçador.
- Queres ver que levas com o bordão nos cornos!?
Infernizado com a atitude indomável do canino, e permutando subitamente a sua postura plácida, passou, num ápice, da ameaça à concretização, e duas bordoadas certeiras no lombo do animal afugentaram-no do petisco por si descoberto.
Ao largo, o rafeiro malhado digeria os efeitos dolorosos das pancadas esganiçando-se conformado, enquanto o dono, com destreza súbita e insólita se abeirava do invólucro, remexendo-lhe, primeiro com a ponta do cajado, e depois, com as duas mãos, arrastou-o com dificuldade para uma zona seca.
- Que merda é esta que está aqui dentro?"
(...)
O que será que está dentro do saco???
A nossa trama atinge o climax. Até ao final do texto será uma odisseia vertiginosa e desenfreada em busca da VERDADE DOS FACTOS ...
Desafio o leitor neste último post (com conteúdo do texto) antes da obra ser apresentada ao público (é já dia 23 e 24 de Outubro) a engendrar uma tentativa de adivinhação do final. Sejam criativos ...