quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bruxarias em Vale Seco

"(...)
- E o caso está praticamente encerrado. Os agentes acabaram neste momento de recolher e selar os últimos objectos. Daqui para já é tudo, devolvo a emissão para os estúdios. Alô Carlos Açorda! A emissão é tua!
«- Obrigado Alfredo Velhaco! Se só agora nos sintonizou, informamos que temos tido no ar uma emissão especial, feita a partir de Vale Seco, local onde foi encontrado hoje de manhã um conjunto de adereços bizarros, que se presume estarem associados à prática de rituais de feitiçaria.»
Uma música popular, que vinha acompanhando em baixo tom o discurso melhorado do locutor da região, começou a entoar forte nos altifalantes do rádio a pilhas de Zulmira.
- Vizinha!
- Vizinha Zulmira!
Uma, duas e três vezes chamaram a mulher de preto carregado. Na ausência de resposta, o nervosismo assumiu o protagonismo junto do portão de ripas de madeira. Preso ao tronco da figueira de grande porte, o Serra d´Aires latia forte e agudizava a preocupação das mulheres da rua.
- Vamos entrar!
Decididas, forçaram o portão e penetraram ansiosas no quintal, encaminhando-se para a porta atarracada, que exibia fitas coloridas na frente.
- Está a ouvir música!? – estranhou Filomena, mal escutou os primeiros sons da melodia brejeira que provinha da casa do quintal.
- Desde que o filho morreu que a mulher nunca mais ligou um aparelho.
- Coisa boa não é! Estou-me a arrepiar toda.
Mas uma mão mais corajosa que o restante corpo enfiou-se pela fresta do postigo semi-aberto e fez accionar o trinco da porta. Um grito de desespero limiar irrompeu estridente no interior, contagiando as duas intrusas que, enervadas aos extremos, berraram forte e descontroladamente.
- Vizinha Filomena!
- Vizinha Zulmira!
- Francisca!
- Vizinha Zulmira!
Pelas frestas das fitas coloridas que protegiam a porta aberta, penetrava a luz solar, iluminando o corpo trémulo de Zulmira que, sentada numa cadeira próxima da mesa, segurava nas mãos a faca das matanças dos porcos.
(...)"
O universo das crenças adquire uma dimensão monstruosa junto das populações mais isoladas. Feitiços e bruxarias apresentam-se como estratégias mágicas de resolução para todas as questões: dinheiro, saúde, amor, vinganças, etc..
Vale Seco, localizado algures num Alentejo profundamente rural, vive essa experiência ...
Desafio os leitores do blog a comentar a temática e a partilhar estórias ou vivências relacionadas com o tema deste post ...

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