terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Visita ao Two Lights State Park


" Portland (Maine – EUA), 25 de Junho de 2006.

Oito horas da manhã iam marcando os relógios na costa Este dos Estados Unidos da América. O céu estava limpo e a temperatura amena. Na Main Street de Scarborough o movimento rodoviário intensificava-se. Encostado ao Cadillac branco, Toino Bezerra, de óculos escuros pouco discretos, seguia com entusiasmo o deambular gracioso de uma mulher trajada com a farda das funcionárias de limpeza do motel, que caminhava na sua direcção.
- Hi! How are you?
- I am góód! – respondeu Toino Bezerra, carregando nos assentos inexistentes dos dois “ós” e surpreendendo a mulher amulatada.
- Ho! My God!
- Bom como ó milho! – murmurou em português, de olhos fixos no traseiro largo da mulher mulata, que seguia a marcha abanando a cabeça com indignação e gesticulando o sinal da cruz.
(…)
Meia hora depois o motor do Cadillac Seville voltava a roncar pujante, infiltrando-se na Main Street e seguindo na direcção de Portland. Sem enganos de maior, percorreram a baixa da cidade, e depois seguiram para South Portland. Dois faróis e um parque verde paralelo à baia e à praia de areia grossa ocuparam as atenções da família Cartucho. A manhã ficou completa com a visita ao Two Lights State Park, um espaço de natureza verdejante com dimensões imensas. Nele, mulheres e homens de gorduras disformes, sentados em cadeiras de praia rasteiras ao solo, recriavam-se com papagaios de papel coloridos. No circuito de terra junto das falésias escarpadas, atletas domingueiros exercitavam a forma física, enquanto no amplo relvado central, um grupo de jovens ruidosos mas disciplinados jogavam frisbee.
Junto das árvores, sem vergonha dos movimentos díspares que evoluíam no parque, esquilos atrevidos observavam com atenção natural a tranquilidade da família Cartucho, refastelada debaixo de uma sombra fresca.
- Aqueles moços pateiam a pastagem toda.
- Então e aqueles ali daquela banda, a quererem levantar voo.
- É a América! – rematou Gerónimo, depois de avaliados os comportamentos dos utentes do parque."


Este texto evolui em dois espaços físicos distintos. Alentejo rural e a região da Nova Inglaterra nos EUA. Os constrastes culturais entre os dois povos estão bem patentes nalgumas passagens da obra. Este é um dos aspectos ricos da literatura - a possibilidade "brincar" com as diferenças culturais das pessoas e, ao mesmo tempo, dá-las a conhecer.

O desafio que deixo neste post é uma reflexão / partilha de situações embaraçosas resultantes de contrastes culturais.

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