sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Dia da Viagem para a América


"(...) Os relógios marcavam oito horas da manhã. Era Sábado e dia santo ao mesmo tempo. Vale Seco acordava de uma noite em que houve baile, por homenagem a São João, bebedeiras, zaragatas, facadas e até um tiro sem atirador identificado.
No largo do jardim inacabado, pequenos grupos de habitantes, ainda rodeados de cápsulas de minis e médias consumidas na farra nocturna, comentavam com gosto os acontecimentos da madrugada festiva. Na rua que ligava a parte baixa da aldeia ao centro, um homem de estatura baixa e larga, trajando com a melhor vestimenta do baú das roupas dos domingos e dias santos, circulava em passo apresado.
- Onde irá o Cartucho todo janota e com tanta pressa a esta hora da manhã?
- Então não sabem!? É hoje que ele vai para a América.
- Sempre vai? Eu ouvi a minha patroa dizer isso, mas não acreditei.
- Vai sim senhor! Deve ir chamar o Joaquim das Facadas para os levar a Beja.
- Está boa, esta! O Cartucho mais velho na América! Um homem que praticamente nunca saiu de Vale Seco, agora meter-se numa aventura destas … América…
- Bom dia! – cumprimentou Gerónimo ao passar junto dos grupos que preenchiam de movimentos tranquilos o jardim em fase de acabamentos crónicos.
- Bom dia!
Sem desacelerar a marcha convicta, o homem de fatiota janota desapareceu na esquina que conduzia ao beco onde morava o improvisado taxista. No jardim, falou-se por mais alguns momentos na suposta viagem do transeunte, e depois voltou-se ao tema forte do dia: - o baile de São João. (...)"

Já imaginaram o tamanho da aventura? Um casal que, praticamente, nunca saiu da sua aldeia e, de repente, lançar-se à descoberta de um mundo que existe para lá dos limites de Vale Seco …
A necessidade desenvolve competências … e quem tem boca vai a Roma …

O desafio que deixo neste post é o de imaginarem o que irá suceder com o casal Cartucho e partilharem no blog. Ou então, partilharem estórias inusitadas resultantes deste confronto cultural …


2 comentários:

  1. Bom...se me relembrar das minhas viagens para os Estados Unidos, facilmente consigo imaginar as aventuras em que este casal se irá meter.
    Desde quererem levar uma adega completa para o compadre, que já não vêm há anos, até acharem que o fumeiro lá de casa passaria despercebido aos controladores alfandegários...posso começar já a rir de tantas cenas cómicas que assisti, e quem sabe não serão parecidas às que o casal Cartucho irá passar, na sua aventura até as Américas.

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  2. Creio que o desafio que enfrentarão será semelhante ao que venceram meus antepassados portugueses quando tomaram a decisão de imigrar para o Brasil. Embora hoje as diferenças culturais possam parecer maiores, pela multiplicidade de aspectos que envolvem, temos que considerar que hoje os meios de comunicação já antecipam os outros mundos. Agora, se nos reportarmos à decada de 40 e imaginarmos o acesso à informação que teriam pessoas como meus avós maternos, que viviam numa aldeia em Trás-os Montes e desembarcaram na então capital do Brasil, Rio de Janeiro,numa
    longa viagem por mar, não inferior a 12 dias,podemos imaginar o estranhamento com o clima,os costumes,o temperamento do brasileiro e, com certeza,o medo, pelo desconhecido.Mas movia-os a necessidade premente de novos horizontes. Como não sei o que move nosso casal de aventureiros, posso pensar até que a natural curiosidade sobrepuje a incerteza. Mas o estranhamento para com o "american way of life, , este é certo!uardo-me, então, para a surpresa!!

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